Movimentos sociais organizados, um gigante adormecido em nossa cidade.
Porque as associações de moradores de bairros operários nunca dão certo?
A primeira resposta que vem a cabeça de uma pessoa que se depara com esta pergunta é:
Exatamente por serem de bairros operários, ou seja, é por não ter recursos financeiros para dar prosseguimento nesta tarefa é que nunca dão certo.
Realmente o fator econômico é relevante na não continuidade de uma associação de moradores, mas é somente o fator econômico que faz com que estas instituições de extrema importância para a representatividade da parcela historicamente desfavorecida da sociedade não evoluam?
Simplesmente porque não tem dinheiro?
Ora meus caros a falta de dinheiro não justifica a falta de criatividade, e olha que o brasileiro se gaba de ser o povo mais criativo da face da terra!
Então qual seria o fator preponderante para o insucesso destas instituições em nossa cidade?
Não existe apenas um fator determinante, aquele que sozinho é o vilão que inibe esta conquista.
Existem sim inúmeros acontecimentos e detalhes que somados enfraquecem o alicerce destes movimentos sociais que acabam por rachar e afundar com quaisquer pretensões de se manterem atuantes e dignas.
Vamos analisar com calma alguns destes fatores que contribuem para o fim precoce destas associações:
1 – Políticas sociais.
Praticamente não existem políticas sociais voltadas às associações de bairro no Brasil, e as poucas existentes nem de longe surtem o efeito desejado.
Historicamente o governo federal e o estadual não apóiam ou se preocupam com as cidades isoladamente, sempre se dirigem as regiões, imagine então se vão se preocupar em viabilizar a implantação ou a manutenção de micro associações de moradores de bairro!
Esta tarefa geralmente é repassada as prefeituras que por sua vez também não se movimentam neste sentido.
Pelo contrario o poder público invariavelmente as vê como potenciais inimigos e não como futuros parceiros.
Políticos em geral se intimidam com a possibilidade de uma comunidade se organizar e se tornar competente o bastante para levar sozinha à frente as suas reivindicações.
Desta maneira manter estas instituições em um regime de ilegalidade e desorganização é a maneira mais simples e barata para se manter o total controle sobre elas, daí a falta de vontade política de se criar mecanismos simples e objetivos para fomentar a criação de novas associações de moradores e manter funcionando as já existentes.
2 – Falta de interesse.
Nunca é tarefa fácil reunir um numero mínimo de pessoas para se fundar uma associação de moradores; Geralmente todos se empolgam com a idéia, mas sempre da boca para fora, pois quando é para arregaçar as mangas e partir para a luta nunca podem participar de nada.
No final das contas após uma longa e desgastante conversa se consegue os nomes para se formar a tal associação, mais ai cria-se um novo impasse como serão divididos os cargos?
E o mais importante quem será o comandante da equipe?
Comumente os cargos são divididos de forma aleatória e ninguém quer ser o responsável por nada, assim o cargo de presidente acaba sendo imposto àquela pessoa que se destaca pela sua personalidade e que constantemente é a mesma que passou horas argumentando para que as outras pessoas se mobilizassem pela nobre causa.
3 – Da falta de interesse a torcida contra.
Para muitos a tarefa já estaria acabada, afinal formada a associação é bola para frente. Ledo engano!
Conforme descrito acima estes “diretores” na pratica foram “obrigados” a participar.
Então surge um fenômeno interessante: A associação de uma pessoa só.
Isto mesmo todas as tarefas da associação ficam a cargo do presidente, ele responde pela secretaria, tesouraria, departamentos e lógico pela presidência. Ele sozinho elabora e da seqüência aos projetos, e nunca tem tempo para dar satisfação de seus atos aos demais integrantes da diretoria e muito menos a assembléia geral.
Então após um inicio difícil começa a surgir os primeiros frutos, algumas festas realizadas com relativo sucesso, e eis o nome do fulano ganhando destaque.
O vereador ciclano quer falar com ele, o secretário bertano só recebe o tal presidente, cartas, convites, algumas fotos no jornal e pronto!
Os demais supostos componentes da associação que se mantiveram omissos até então se sentem traídos, menosprezados e injustiçados.
E a primeira atitude é propagar aos quatro ventos que o fulano é autoritário não deixa ninguém mais aparecer, e pedem a sua cabeça, mas se esquecem que a associação foi fundada há tempos por todos e nunca ninguém se arvorou a efetivamente tomar as rédias de seu cargo e simplesmente fazer o que já deveria estar sendo feito. Trabalhando em conjunto.
Começa então a torcida contra, a torcida para o quanto pior melhor.
3 – Falta de foco.
Nunca se estabelece uma prioridade para a luta da associação, este fato gera um problema grave, iniciam-se inúmeros projetos ao mesmo tempo e nunca se chega ao final de nenhum deles, criando uma sensação de incompetência e de frustração.
Todas as associações se limitam a organizar festas e marcar reuniões aonde a única coisa que se resolve é a marcação de uma nova reunião.
4 – Possessividade.
O brasileiro é possessivo por natureza, vem de sua origem latina e não poderia ser diferente dentro de uma associação.
O fundador que sempre é o presidente age como se a associação fosse de sua propriedade particular, uma extensão de sua casa, nunca da satisfação de seus atos a ninguém.
Esta postura de poder e controle total acabam por intimidar as pessoas e ninguém mais quer saber de participar ou dividir as responsabilidades, então a carga de tarefas é jogada nas costas do presidente situação que acaba criando um circulo vicioso que o torna definitivamente dono da instituição.
Qual o problema nisso? Se ninguém quer saber de nada, nada mais justo que o fundador e presidente de as cartas não é isso?
Não! A perpetuação no cargo e o sentimento de posse acabam por gerar inúmeras dificuldades e destas dificuldades a quebra da credibilidade e o acumulo de irregularidades administrativas dentro da associação.
Este cidadão por ser o único a manter a associação em atividade, por ter sob seu controle todas as ações da associação nunca se da ao luxo de ler o estatuto, aliás estatuto para as associações de bairro é um mero pedaço de papel que fica jogado no fundo de uma gaveta, é peça descartável da vida cotidiana destas entidades.
Assim mudam diretores a qualquer momento, quebram direitos inalienáveis dos associados como se fosse uma coisa absolutamente normal, modificam o estatuto sem o conhecimento da assembléia geral, tomam decisões absurdas e irresponsáveis, enfim tratam à coisa pública que é uma associação, como se fosse um clubinho de bolinhas de gude.
5 – Falta de seriedade e de profissionalismo.
A forma displicente e amadora como as associações de bairros operários são conduzidas é o fiel retrato da falta de seriedade e de profissionalismo com que estas importantes instituições são encaradas pelos seus “diretores”.
Falta seriedade porque tratam à associação como um passatempo, uma coisa para se preocupar no final de semana ou um simples instrumento para mobilizar a população para realizar aquela festa de confraternização.
Falta profissionalismo porque ninguém se interessa em ler, se aprofundar nas coisas do terceiro setor, dificilmente algum presidente de associação sabe o que é terceiro setor.
Raramente se encontra alguém que saiba a diferença de edital para ofício, alguém que saiba ou tenha interesse em saber como se redige uma ata, e nenhuma associação possui ao menos um arquivo decente.
Os cargos de diretoria são distribuídos aleatoriamente e as pessoas indicadas para exercê-los não têm a menor idéia de como funciona uma associação pouco menos uma secretaria, uma tesouraria, um conselho fiscal, e o mais grave não se interessam em saber.
Diariamente vemos absurdos administrativos, reais atentados às leis vigentes em nosso país e aos estatutos destas associações serem praticados por seus próprios diretores.
Documentos importantes são perdidos, livros de atas e de caixa que nunca são apresentados ou simplesmente não existem, inobservância de prazos legais, descumprimento sistemático do estatuto, descontrole sobre o quadro associativo e sobre o patrimônio, conselho fiscal fantasma etc, etc e etc.
Estes detalhes todos reunidos são sim as reais causas do fracasso dos movimentos de bairro.
Dinheiro meus caros é o combustível que alimenta a maquina que gira o mundo, é simplesmente mais um dos objetivos que estas associações têm de perseguir diariamente, não é o fator determinante da derrocada destas entidades.
Equacionando os problemas acima, dinheiro é somente mais um detalhe.