Frase do dia

“Não sou contra o governo com o intuito de me tornar governo. Sou contra o governo porque ele é contra o povo”

Reginaldo Marques

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Charretes: Proibir ou regulamentar? - A Tribuna

Teve início nesta quarta-feira, dia três de fevereiro, a primeira de uma série de três audiências públicas que deverão ser realizadas pela Câmara Municipal de Campos do Jordão para discutir o polêmico projeto de lei que propõe a proibição do tráfego de charretes na cidade.

Nunca uma audiência pública atraiu tanto o interesse da população da cidade quanto esta. Tal interesse se dá por conta do ativismo dos protetores dos animais que apoiaram em massa o abaixo-assinado que deu origem ao polemico projeto, e por ser as charretes, uma das mais antigas e tradicionais atividades econômicas e turísticas da cidade.

Apesar de serem em número infinitamente menor que os protetores dos animais, que tiveram um expressivo reforço de parlamentares e ativistas de outra cidade, os charreteiros também conseguiram sem maiores esforços ou campanhas em redes sociais arrebanhar um bom número de simpatizantes, que acompanharam atentamente os argumentos apresentados por ambos os lados nesta primeira audiência.

Depois de um início bastante produtivo e cortês, os debates inevitavelmente caíram na vala comum dos ataques pessoais, o que evidenciou que o cerne da discussão vai muito além do simples amor aos animais.

Um “Q” de política, misturada a antigas rixas pessoais pairou no recinto assim que alguns debatedores sem muitos argumentos plausíveis a serem apresentados, desviaram o foco da discussão, e miraram apenas seus desafetos pessoais.

Seguindo o fluxo dos acontecimentos alguns vereadores presentes viram ali uma grande oportunidade de angariar alguns votos agradando a maioria dos presentes, sem se importarem com as consequências finais que a aprovação ou não do projeto possam gerar dentro da cidade.

O debate nesta primeira audiência ficou claramente polarizado entre a racionalidade dos charreteiros, que foram à audiência atrás de um consenso que permita melhorar o desempenho de sua atividade sem sofrerem o ônus da proibição, e pela emoção exacerbada dos protetores dos animais, que por enquanto, não deram sinal que desejam retroceder em suas intenções de acabar definitivamente com este tipo de atividade na cidade.

Ninguém em sã consciência é contra os animais, ou aceita que maus-tratos sejam considerados normais, ou apenas uma exceção que deva ser tolerada, porém, ninguém também é ingênuo a ponto de achar que a simples proibição da circulação de charretes será a definitiva salvação dos cavalos da cidade.

Se os protetores dos animais tiverem coerência em seu discurso, e em suas atitudes, a proibição das charretes será apenas o início de uma série de outras proibições, que inviabilizará futuramente outras atividades ligadas ao manejo de cavalos na cidade.

Naturalmente na esteira da proibição das charretes, terá de vir à proibição dos aluguéis de cavalos para passeios e cavalgadas, tendo em vista que um cavalo sofre mais com um homem em seu dorso do que puxando dois, três ou quatro em uma charrete.

Ainda teremos mais duas audiências antes de o projeto ser levado a votação em plenário, mas já ficou bastante claro que se o projeto continuar com a mesma redação de hoje, simplesmente não será aprovado.

E para solucionar mais este impasse, cirurgicamente criado entre charreteiros e protetores dos animais as portas de uma eleição, o projeto inevitavelmente sofrerá uma série de emendas para agradar a gregos e troianos. Emendas estas que descaracterizarão o projeto a ponto de torná-lo completamente inútil.

Caso os ativistas tenham sucesso em sua empreitada, e consigam a proibição das charretes, cabe saber se os mesmos terão força e apoio o suficiente dos endinheirados da cidade para levar a sua luta as últimas consequências, proibindo que os haras e demais estabelecimentos de luxo da cidade, que também se beneficiam do trabalho dos cavalos, tenham o mesmo destino dos pequenos criadores - pelo simples fato que bem cuidados ou não, escravos são escravos.