Dizia meu pai, com toda a sabedoria que seus mais de 90 anos lhe proporcionaram, que tudo na vida tem o seu limite.
Este talvez seja o grande mal do novo milênio... Os excessos.
Excessos que chegaram com força total no mundo feminino que foi atingido, já nos primeiros dias de 2018, por duas grandes bombas: O discurso emocionado de Oprah Winfrey no Globo de Ouro, defendendo o denuncismo nos casos de assédio, que apesar de assertivo e correto, também carregava uma inquestionável carga oportunista e eleitoreira e o manifesto das francesas capitaneado pela atriz Jaqueline Deneuve que acusa o movimento #Me too de cercear a liberdade sexual das mulheres impondo um puritanismo reacionário que contrária a tão desejada liberdade feminina nos dias de hoje.
A verdade é que a obsessão na busca pelo empoderamento feminino a qualquer custo está tendo um resultado adverso e ao invés de unir as mulheres em torno um objetivo comum acabou dividindo o mundo feminino entre o team Oprah e o team Deneuve.
O assédio é um problema real e os assediadores precisam ser exemplarmente punidos, mas querer apagar da história a obra dos acusados mostra que estas mulheres não estão apenas atrás de justiça, mas principalmente de vingança.
As mulheres correm o sério risco de perderem a grande oportunidade de mudar a sociedade ao usar as denúncias de assédio como arma contra os homens e não como ferramenta de defesa das mulheres.
Ao apoiar este tipo de estratégia corremos o risco de regredir a época da inquisição, onde somente a denúncia, mesmo que vazia, tinha o monopólio da verdade.
Dentro deste aspecto é sempre bom salientar que o assédio não é exclusividade de homens brancos héteros e ricos, o problema é bem mais amplo e complexo que isso e a simplificação do assédio o reduzindo a um atributo estritamente racial, sexual, elitista e masculino acaba marginalizando as vítimas dos assediadores que fogem a estas características predeterminadas.
A grande questão que deve ser resolvida pelas mulheres neste momento é definir se o tão desejado empoderamento feminino se resume apenas ao dever de apoiar Oprah ou no direito de apoiar Deneuve.