Frase do dia

“Não sou contra o governo com o intuito de me tornar governo. Sou contra o governo porque ele é contra o povo”

Reginaldo Marques

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Coluna Caricatura Escrita - Jornal O Povo.

“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”
Mahatma Gandhi

100 Solução

O debate a respeito das mazelas sociais é o prato principal dos políticos em tempos de campanha o que ocorre ano sim e outro não inviabilizando politicamente todo e qualquer plano de governo. A salvação da saúde, da educação e da economia é entoada como um mantra por todos os partidos em todas as campanhas, discursos sempre vazios que caem no esquecimento minutos depois de fechadas as urnas.

No entanto o que vem destoando da mesmice destas arengas políticas a que todos já estamos acostumados nos últimos tempos é a perigosa politização da discussão sobre violência crescente em todo o Brasil e especialmente em São Paulo, são discursos inflamados com o único intuito de capitalizar ganhos eleitorais, um completo absurdo que denota bem o caráter dos postulantes ao poder de nosso Estado.

Diferentemente do que pensa a grande maioria da população brasileira a criminalidade no Brasil não é recente e sim tão antiga quanto a Bíblia e o ajuntamento de delinquentes sob um mesmo comando com a finalidade de cometer crimes dos mais variados, ato que caracteriza o crime organizado também é - exemplo desta afirmação são os grupos de cangaceiros que atuavam no início do século passado nos sertões nordestinos.

E tão antigo quanto o crime também é o abandono do Estado para com a sua população carcerária e neste aspecto podemos sem medo de cometer injustiças juntar no mesmo balaio governos ditatoriais e democráticos.

Ironicamente a evolução do crime no Brasil foi fruto das ações em conjunto de uma ditadura militar de direita completamente negligente e da radicalidade extremista da esquerda paramilitar.

Mais precisamente o crime organizado já existente no Brasil desde tempos imemoriais se modernizou nas dependências do lendário presídio da Ilha Grande no final dos anos 70 transformando-se em organização criminosa aquela que além do lucro também almeja o poder quando o governo militar para despolitizar o movimento revolucionário de então nivelou militantes de esquerda e criminosos comuns a mesma condição. Esta convivência forçada acabou resultando em uma troca de informações que levou a inevitável “organização” dos criminosos ali detidos pelos mais diversos crimes.

Simbolicamente o nascimento da primeira facção criminosa da era moderna o Comando Vermelho se deu na noite de 17 de setembro de 1979, data que passou para a história como “A Noite de São Bartolomeu”.

Para se ter uma ideia de como era o berço das organizações criminosas já nos anos 30 descreveu assim Graciliano Ramos o mais ilustre prisioneiro político do presídio da Ilha Grande no inicio daquela década o discurso do encarregado de segurança do presídio ao recebê-lo em suas dependências:

“Aqui não há direito. Escutem. Nenhum direito. Quem foi grande esqueça-se disto. Aqui não há grandes. Os que têm protetores ficam lá fora. Atenção. Vocês não vêm corrigir-se, estão ouvindo? Não vêm corrigir-se: vêm morrer!”.

Diante de todos estes fatos querer hoje impor a paternidade da violência e da criminalidade a este ou aquele político ou partido soa leviano na medida em que claramente manipula a historia para favorecimento de alguns grupos em particular e desleal quando tal embuste é usado única e exclusivamente para alguns se darem bem nas urnas.

Se realmente queremos uma revolução nas políticas públicas voltadas ao combate a criminalidade primeiro temos de ser corretos e começar a tratar este grave problema com a seriedade e com a serenidade que ele merece. Basta de tirar proveito político da violência que aflige a séculos o Brasil.