Frase do dia

“Não sou contra o governo com o intuito de me tornar governo. Sou contra o governo porque ele é contra o povo”

Reginaldo Marques

domingo, 10 de maio de 2009

Um gigante adormecido

Movimentos sociais organizados, um gigante adormecido em nossa cidade.

Porque as associações de moradores de bairros operários nunca dão certo?

A primeira resposta que vem a cabeça de uma pessoa que se depara com esta pergunta é:

Exatamente por serem de bairros operários, ou seja, é por não ter recursos financeiros para dar prosseguimento nesta tarefa é que nunca dão certo.

Realmente o fator econômico é relevante na não continuidade de uma associação de moradores, mas é somente o fator econômico que faz com que estas instituições de extrema importância para a representatividade da parcela historicamente desfavorecida da sociedade não evoluam?

Simplesmente porque não tem dinheiro?

Ora meus caros a falta de dinheiro não justifica a falta de criatividade, e olha que o brasileiro se gaba de ser o povo mais criativo da face da terra!

Então qual seria o fator preponderante para o insucesso destas instituições em nossa cidade?

Não existe apenas um fator determinante, aquele que sozinho é o vilão que inibe esta conquista.

Existem sim inúmeros acontecimentos e detalhes que somados enfraquecem o alicerce destes movimentos sociais que acabam por rachar e afundar com quaisquer pretensões de se manterem atuantes e dignas.

Vamos analisar com calma alguns destes fatores que contribuem para o fim precoce destas associações:

1 – Políticas sociais.

Praticamente não existem políticas sociais voltadas às associações de bairro no Brasil, e as poucas existentes nem de longe surtem o efeito desejado.

Historicamente o governo federal e o estadual não apóiam ou se preocupam com as cidades isoladamente, sempre se dirigem as regiões, imagine então se vão se preocupar em viabilizar a implantação ou a manutenção de micro associações de moradores de bairro!

Esta tarefa geralmente é repassada as prefeituras que por sua vez também não se movimentam neste sentido.

Pelo contrario o poder público invariavelmente as vê como potenciais inimigos e não como futuros parceiros.

Políticos em geral se intimidam com a possibilidade de uma comunidade se organizar e se tornar competente o bastante para levar sozinha à frente as suas reivindicações.

Desta maneira manter estas instituições em um regime de ilegalidade e desorganização é a maneira mais simples e barata para se manter o total controle sobre elas, daí a falta de vontade política de se criar mecanismos simples e objetivos para fomentar a criação de novas associações de moradores e manter funcionando as já existentes.

2 – Falta de interesse.

Nunca é tarefa fácil reunir um numero mínimo de pessoas para se fundar uma associação de moradores; Geralmente todos se empolgam com a idéia, mas sempre da boca para fora, pois quando é para arregaçar as mangas e partir para a luta nunca podem participar de nada.

No final das contas após uma longa e desgastante conversa se consegue os nomes para se formar a tal associação, mais ai cria-se um novo impasse como serão divididos os cargos?

E o mais importante quem será o comandante da equipe?

Comumente os cargos são divididos de forma aleatória e ninguém quer ser o responsável por nada, assim o cargo de presidente acaba sendo imposto àquela pessoa que se destaca pela sua personalidade e que constantemente é a mesma que passou horas argumentando para que as outras pessoas se mobilizassem pela nobre causa.

3 – Da falta de interesse a torcida contra.

Para muitos a tarefa já estaria acabada, afinal formada a associação é bola para frente. Ledo engano!

Conforme descrito acima estes “diretores” na pratica foram “obrigados” a participar.

Então surge um fenômeno interessante: A associação de uma pessoa só.

Isto mesmo todas as tarefas da associação ficam a cargo do presidente, ele responde pela secretaria, tesouraria, departamentos e lógico pela presidência. Ele sozinho elabora e da seqüência aos projetos, e nunca tem tempo para dar satisfação de seus atos aos demais integrantes da diretoria e muito menos a assembléia geral.

Então após um inicio difícil começa a surgir os primeiros frutos, algumas festas realizadas com relativo sucesso, e eis o nome do fulano ganhando destaque.

O vereador ciclano quer falar com ele, o secretário bertano só recebe o tal presidente, cartas, convites, algumas fotos no jornal e pronto!

Os demais supostos componentes da associação que se mantiveram omissos até então se sentem traídos, menosprezados e injustiçados.

E a primeira atitude é propagar aos quatro ventos que o fulano é autoritário não deixa ninguém mais aparecer, e pedem a sua cabeça, mas se esquecem que a associação foi fundada há tempos por todos e nunca ninguém se arvorou a efetivamente tomar as rédias de seu cargo e simplesmente fazer o que já deveria estar sendo feito. Trabalhando em conjunto.

Começa então a torcida contra, a torcida para o quanto pior melhor.

3 – Falta de foco.

Nunca se estabelece uma prioridade para a luta da associação, este fato gera um problema grave, iniciam-se inúmeros projetos ao mesmo tempo e nunca se chega ao final de nenhum deles, criando uma sensação de incompetência e de frustração.

Todas as associações se limitam a organizar festas e marcar reuniões aonde a única coisa que se resolve é a marcação de uma nova reunião.

4 – Possessividade.

O brasileiro é possessivo por natureza, vem de sua origem latina e não poderia ser diferente dentro de uma associação.

O fundador que sempre é o presidente age como se a associação fosse de sua propriedade particular, uma extensão de sua casa, nunca da satisfação de seus atos a ninguém.

Esta postura de poder e controle total acabam por intimidar as pessoas e ninguém mais quer saber de participar ou dividir as responsabilidades, então a carga de tarefas é jogada nas costas do presidente situação que acaba criando um circulo vicioso que o torna definitivamente dono da instituição.

Qual o problema nisso? Se ninguém quer saber de nada, nada mais justo que o fundador e presidente de as cartas não é isso?

Não! A perpetuação no cargo e o sentimento de posse acabam por gerar inúmeras dificuldades e destas dificuldades a quebra da credibilidade e o acumulo de irregularidades administrativas dentro da associação.

Este cidadão por ser o único a manter a associação em atividade, por ter sob seu controle todas as ações da associação nunca se da ao luxo de ler o estatuto, aliás estatuto para as associações de bairro é um mero pedaço de papel que fica jogado no fundo de uma gaveta, é peça descartável da vida cotidiana destas entidades.

Assim mudam diretores a qualquer momento, quebram direitos inalienáveis dos associados como se fosse uma coisa absolutamente normal, modificam o estatuto sem o conhecimento da assembléia geral, tomam decisões absurdas e irresponsáveis, enfim tratam à coisa pública que é uma associação, como se fosse um clubinho de bolinhas de gude.

5 – Falta de seriedade e de profissionalismo.

A forma displicente e amadora como as associações de bairros operários são conduzidas é o fiel retrato da falta de seriedade e de profissionalismo com que estas importantes instituições são encaradas pelos seus “diretores”.

Falta seriedade porque tratam à associação como um passatempo, uma coisa para se preocupar no final de semana ou um simples instrumento para mobilizar a população para realizar aquela festa de confraternização.

Falta profissionalismo porque ninguém se interessa em ler, se aprofundar nas coisas do terceiro setor, dificilmente algum presidente de associação sabe o que é terceiro setor.

Raramente se encontra alguém que saiba a diferença de edital para ofício, alguém que saiba ou tenha interesse em saber como se redige uma ata, e nenhuma associação possui ao menos um arquivo decente.

Os cargos de diretoria são distribuídos aleatoriamente e as pessoas indicadas para exercê-los não têm a menor idéia de como funciona uma associação pouco menos uma secretaria, uma tesouraria, um conselho fiscal, e o mais grave não se interessam em saber.

Diariamente vemos absurdos administrativos, reais atentados às leis vigentes em nosso país e aos estatutos destas associações serem praticados por seus próprios diretores.

Documentos importantes são perdidos, livros de atas e de caixa que nunca são apresentados ou simplesmente não existem, inobservância de prazos legais, descumprimento sistemático do estatuto, descontrole sobre o quadro associativo e sobre o patrimônio, conselho fiscal fantasma etc, etc e etc.

Estes detalhes todos reunidos são sim as reais causas do fracasso dos movimentos de bairro.

Dinheiro meus caros é o combustível que alimenta a maquina que gira o mundo, é simplesmente mais um dos objetivos que estas associações têm de perseguir diariamente, não é o fator determinante da derrocada destas entidades.

Equacionando os problemas acima, dinheiro é somente mais um detalhe. 













































































































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