Frase do dia

“Não sou contra o governo com o intuito de me tornar governo. Sou contra o governo porque ele é contra o povo”

Reginaldo Marques

segunda-feira, 21 de março de 2011

E a Bethânia levantou a lebre.


Ó paí, ó!

Maria Bethânia criará um blog para disseminar poesia de boa qualidade? Ótimo!
O blog custará pouco mais de R$ 1.350 mil para se manter durante um ano? Problema dela!
Bethânia embolsará R$ 50 mil mensais para declamar um poema por dia? Sortuda!
O dinheiro será arrecadado junto a empresas que depois o abaterão do seu Imposto de Renda? Êpa!
Existe uma lei de nome Rouanet aprovada pelo Congresso no final de 1991. Ela permite às empresas aplicarem em projetos culturais até 4% do que pagariam de Imposto de Renda, e às pessoas físicas até 6%.
A maior parte da clientela da lei difunde a idéia de que é privado o dinheiro destinado a financiar projetos.
Mentira! Na verdade, o governo abdica de receber uma parcela de impostos para que a cultura floresça entre nós.
A intenção inegavelmente é boa. No mais quase tudo é ruim.
Onde já se viu dinheiro público escapar ao controle do governo? Aqui é o que ocorre na prática.
Uma vez autorizada a arrecadação de recursos, dispensadas maiores justificativas, o negócio passa a ser tratado entre artistas, produtores e suas eventuais fontes de financiamento.
Com frequência o processo é nebuloso. O governo limita-se a receber depois a prestação de contas.
Está para existir no mundo civilizado um modelo sequer parecido com esse.
Transparência? Esqueça!
Não pense que é pouco o dinheiro envolvido em transações por vezes tenebrosas. Em 2003 foram R$ 300 milhões. Seis anos depois, R$ 1 bilhão.
Cerca de 80% do orçamento do Ministério da Cultura para este ano derivam de impostos que o governo deixará de recolher. O que sobra é uma titica num país onde menos de 6% das pessoas entraram alguma vez num museu, 13% vão ao cinema uma única vez por mês, só 17% compram livros (menos de dois livros per capita ano) e mais de 90% dos municípios não têm salas de cinema nem teatros.
A Cultura é tratada pelos governos - todos eles - como mercadoria de terceira.
A Polícia Federal produziu no ano passado um relatório sigiloso sobre projetos tocados adiante com base na Lei Rouanet. Pelo menos 30% do dinheiro que empresas dizem ter investido em projetos foram devolvidos para elas por debaixo do pano.
Devolvidos por quem? Pelos arrecadadores com a cumplicidade de artistas. Isso é corrupção.
Autoridades e artistas enchem a boca quando falam sobre uma política nacional de cultura.
Sinto muito, mas não há política – primeiro porque falta dinheiro para outras coisas, segundo porque uma política nacional de cultura teria que ser definida pelo governo depois de amplas consultas à sociedade.
Contudo, por obra e graça dos mecanismos e da ausência de critérios da Lei Rouanet, são os departamentos de marketing das empresas que definem a “política nacional de cultura”. Os responsáveis por tais departamentos escolhem os projetos a serem contemplados com um dinheiro que é do governo. E quem mais lucra?
As empresas, que associam sua imagem à imagem de artistas famosos, quase sempre os mesmos. Os intermediários entre as empresas e os artistas. E os artistas que forram seus bolsos.
Entre pôr dinheiro numa orquestra juvenil da periferia de Fortaleza ou num show de Ivete Sangalo, você imagina qual será a escolha de uma empresa?
E o dinheiro que elas economizam com publicidade?
Numa recepção, há dois anos, sem se dar conta da presença de Milú Villela, uma das donas do Banco Itaú, o então presidente Lula comentou numa roda de amigos: “O Itaú faz a maior propaganda dele mesmo com dinheiro de renúncia fiscal”.
Milú foi embora aborrecida.
O finado Banco Santos, cujo dono, mais tarde, foi preso e acusado por vários crimes, patrocinou em 2009 a exposição de alguns exemplares do notável exército de terracota desencavado na China. Para celebrar a proeza, publicou páginas e mais páginas de anúncios em revistas e jornais exaltando a contribuição da iniciativa privada à cultura nacional. Tudo pago via Lei Rouanet.
Apenas 3% dos que apresentam projetos ao Ministério da Cultura ficam com mais da metade do dinheiro atraído pela lei. Repito: apenas 3%.
Mais da metade do dinheiro banca projetos nascidos no eixo Rio-São Paulo, e somente ali. Fora do eixo, deu a entender certa vez o produtor paulista Paulo Pélico, “o resto é bumba-meu-boi”.
A presidente Dilma Rousseff está disposta a acabar com a farra feita com o nosso dinheirinho.
A Lei Rouanet dará lugar a outra que já tramita no Congresso. Ela estimulará as empresas a criarem fundos com parte dos seus lucros para investimentos na cultura.
Anotem desde agora: será ensurdecedora a chiadeira dos viciados em dinheiro público.

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