Frase do dia

“Não sou contra o governo com o intuito de me tornar governo. Sou contra o governo porque ele é contra o povo”

Reginaldo Marques

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dresden... A imoralidade dos vencedores.


Dresden, incendiada e afogada.

Há mais de meio século, no final da Segunda Guerra Mundial, a estupenda cidade de Dresden, na Alemanha, uma referência universal da cultura, foi varrida do mapa por um intenso e cruel bombardeio aéreo decretado pelos aliados anglo-saxãos, ocasião em que a RAF e a Força Aérea americana se rivalizaram, durante três dias seguidos, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, em tocar fogo em tudo que era vivo ou representava arte e cultura. Cometeram eles, além de um ato inumano, um dos maiores crimes de lesa-cultura de todos os tempos.

Maravilhas na beira do Elba.

Coube ao principe-eleitor da Saxônia August der Starke, Augusto o Forte (1670-1733), conhecido como O Cavaleiro Dourado, que naqueles tempos empunhava também o cetro da Polônia, tornar Dresden um assombro arquitetônico. A emulação para tanto viera do seu vizinho e rival Pedro o Grande, o czar da Rússia, o Cavaleiro de Bronze que, em 1703, erguera a magnifica São Petersburgo, nos pântanos do Rio Neva. Não demorou para que entre a Paris de Luís XIV e a capital do czar Pedro, nada houvesse que se equiparasse a bela Dresden, onde o grande Palácio Zwinger, em estilo barroco tardio (obra de Pöppelmann) , que fazia as vezes de galeria de arte, biblioteca, museu e orfeão musical, convertera-se num centro extraordinário de ebulição cultural. Uma das suas outras maravilhas, abrigada no Palácio Real, era a Fürstenzug, um enorme mural externo com 24 mil azulejos expostos em 102 m. que relatavam a crônica dos príncipes da Saxônia - exposição que visava mostrar a todos a excelência das fábricas de porcelana que atuavam no reino. Famosa igual também a Semperoper, a casa de ópera cuja celebrada acústica serviu para que Richard Wagner nela estreasse, entre 1842 e 1845, o seu Rienzi, o Navio Fantasma e o Tannhäuser, e regesse ainda a Nona Sinfonia de Beethoven.

Um estilo de vida.

Umas décadas antes de Wagner lá estabelecer-se como Kapellemeister, o chefe da orquestra real, ela já havia assumido ser a protetora da escola romântica alemã quando, em 1798, por lá estiveram os irmãos Schlegel e o poeta Novalis. Com Praga, Viena e Budapeste, ela, com justa razão chamada de a Florença do Elba, formava no século 19, um quarteto de esplendidas cidades da Mitteleuropa, da Europa Central, onde, quotidianamente, podia-se usufruir o melhor da vida. Repletas de cafés, de estupendos jardins, de academias de arte eletrizadas pelo vai e vem de pintores e músicos, de declamações de poetas e consertos de grandes solistas, em belos locais sempre lotados, onde, ao sons de polcas e valsas, das lieden de Schubert, misturavam-se a proletária cerveja e a nobre champanha. Tudo isto, este entregar-se ao hedonismo, reduzia-se num estilo de vida que consagrou-se pela expressão “boêmia”. Enquanto Berlim representava a coroa e o quartel, Frankfurt o cifrão do dinheiro, Dresden foi, por mais de dois séculos, a favorita da lira e do verso da Alemanha.

Uma noite apavorante.

Chocou-me naquele momento o pensamento de que mulheres e crianças estavam lá embaixo. Parecia que estávamos voando horas sobre um lençol de fogo – uma terrível fogueira vermelha com um nevoeiro cinzento pairando sobre ela. Dei-me a comentar com a tripulação: "Oh Deus, esta pobre gente". Aquilo foi completamente desnecessário. Você não pode justificá-lo."
Roy Akehurst operador de bordo da RAF durante a destruição de Dresden, 13-14 de fevereiro de 1945.

Foi então que, nos estertores da 2ª Guerra Mundial. tudo terminou numa só noite. Às 21h30m. de 13 de fevereiro de 1945, um barulho atrovoante tomou conta dos céus da cidade. Quase mil aviões Lancasters da RAF (Real Força Aérea), a mando de sir Winston Churchill, tido até então como homem da cultura, começaram a descarregar a primeira leva de bombas sobre a cidade. Choveram lá do alto 1.478 bombas explosivas e mais 1.182 incendiárias. Em seguida foi a vez das fortalezas voadoras dos americanos, jogando uma carga de 1.800 bombas e outras tantas de magnésio para por fogo em tudo. Dresden, em poucas horas, viu-se transformada na maior fogueira do mundo. Um calor que ultrapassou a 800° incinerou ou asfixiou quase toda a população civil. Calcula-se que os mortos oscilaram a 135 mil vítimas , 80% delas eram mulheres, criança e idosos, visto que os homens estavam no fronte da guerra (o número de mortos ultrapassou a todas as baixas civis inglesas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial, e foi quase equivalente aos de Hiroxima, abrasados em 6 de agosto daquele mesmo ano).


Nos dias seguintes, num arremate final do terror, aviões mosquitos da RAF, em vôos rasantes, varreram à metralha as estradas vizinhas, atulhadas com os sobreviventes em fuga, para mostrar-lhes que o inferno os perseguia também ali. No final de tudo, impressionantes pilhas de cadáveres retorcidos, com cem, com duzentos mortos cada uma, pirâmides humanas ainda fumegantes, espalhadas por toda a Dresden, disputavam em horror com os escombros de séculos de beleza e de história devoradas num par de horas.
Churchill, Cavaleiro da Rainha, Prêmio Nobel de literatura em 1953, que ordenou a dizimação da cidade, arrasou numa sentada só mais prédios e objetos de arte do que todos os bárbaros do passado, de Atila a Gengis Kã, justificou-se dizendo ao Marechal do Ar Arthur Harris, apelidado com todos os motivos de Harris Bombardeador, o executor da tétrica operação, que ele. Churchill, “preferia a devastação total das cidades alemãs do que a perda de um só osso de um granadeiro inglês”.

Fonte: Educaterra.


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